um brinde 🥂
carta da editora, boas vindas, um pouquinho de história, um plano subversivo, sol em gêmeos
a primeira vez que liguei o ring light eu me senti exposta. achei que enxergava demais meus poros, o loiro no meu cabelo empalidecia minhas sardas, os círculos brilhantes refletidos na retina me deixavam com um ar psicótico. eu tinha 26 anos, um córtex pré-frontal recém formado1 e a necessidade de fazer dinheiro. e eu simplesmente detestava a ideia de falar para uma câmera.
mas eu já tinha enrolado tanto o quanto podia, eu sabia o que tinha de ser feito, eu sempre soube. desde quando eu me segurava no galho mais alto do cajueiro para ver o horizonte. desde quando o silêncio me envolvia em meio as luzes frenéticas da pista de dança. desde a primeira vez que ouvi a palavra antevasin2. nos escritos do buda que eu lia escondida na biblioteca, na sensação de pedalar pela rodovia antes do sol nascer. a curiosidade sempre esteve lá, e eu sabia que o que eu queria viver não existia e ainda seria inventado. eu sabia que chegaria o momento onde eu veria a oportunidade passando como um cavalo selvagem, e eu precisaria me agarrar a ele.
o cavalo passou selado, a melhor chance que eu tinha era usar tudo o que possuía, minha capacidade de falar, um celular, um ring light emprestado e wi-fi.
Consta que o mundo tem muitos anos. Porém raramente ele dura mais de um século. Somos nós que envelhecemos.
Enquanto vierem pessoas ao mundo, ele terá o mesmo viço e frescor do sétimo dia, no qual Deus descansou.
Neste momento, somos testemunhas de uma criação. Ela desponta diante de nossos olhos, em plena luz do dia: um mundo surge do nada...
E ainda assim existem pessoas que ficam entediadas!
A maior parte do tempo o mundo desperdiça dormindo. A maior parte do espaço também.
Apenas de vez em quando, ele esfrega os olhos e desperta para a consciência de si mesmo.
— Quem sou eu? — indaga o mundo.
— De onde venho?
Por alguns segundos, o pássaro raro pousou em nosso ombro.
O pássaro raro: contos/Jostein Gaarder
as histórias tem muitos começos. como se elas fossem uma estrada que tem muitas entradas, e também muitas saídas. por isso estou sempre contando a história de como esse trabalho nasceu, porque "eu nunca não estive vindo para cá". foram vários pássaros me guiando.
alguns lampejos de consciência em momentos inoportunos, minha busca por entendimento, e acima de tudo minha vontade de explicar o que eu estava percebendo, me trouxeram continuamente — como uma força magnética — para essa cadeira. para a frente desse computador, nesse dia de sol em gêmeos, em que escrevo essa newsletter. "Deus te cercou com um círculo no lugar onde você está agora". minha curiosidade era o alvo, o GPS, o destino e o veículo.
para que essa curiosidade não se tornasse um vício, uma "insatisfação crônica", tive que aprender a arte da presença. isso também sempre soube. eu poderia ser uma eterna possibilidade, e nunca um acontecimento. tinha tanto a propensão para o hiper foco (e ficar estagnada) quanto para não terminar nada do que começava. e porque a melhor forma de aprender é ensinar, eu abri um negócio digital como infoprodutora e estava ali, diante daquela luz que mostrava minha natureza xereta diante da câmera.
astrologia, produtividade, hermetismo, filosofia, magia natural, criatividade, empreendedorismo. uma mistura de "Susan Miller3 com Tim Ferris4", eu me descrevia.
no dia 19 de abril de 2019 eu criei essa empresa, que nasceu como True Node. mas o que é que eu sabia em 2019? não muito. a minha curiosidade, o pássaro raro e uma intuição forte demais me fizeram colocar tudo o que tinha na internet, deixar de dar atendimentos presenciais como astróloga, deixar de lado a ideia de dar aulas de yoga. em novembro eu anunciava nos stories o lançamento do meu primeiro projeto online.
você sabe o que aconteceu no começo de 2020. 4 meses depois de migrar meu trabalho todo para o digital, as notícias chegaram. eu falava ao vivo no instagram para 50 pessoas no dia em que decretaram a pandemia mundial, e um lockdown. o assunto era estoque de álcool gel e o fim do mundo. se fosse um plano, me assustaria. "aproveitar o isolamento social para abrir um negócio online". que ideia. jamais teria comprado essa.
mas não era sobre ter essa ideia, era sobre estar no caminho
e eu estava no lugar certo da internet, na hora certa, com a câmera errada, mas ensinando tudo o que eu sabia sobre "conhecer a si mesmo". eu senti tudo o que todo mundo sente. medo, insegurança, vergonha, síndrome da impostora. eu não parei. queria te escrever aqui que foi porque tenho um grande propósito (e devo ter um), mas a verdade é que não parei porque eu não sou boba. eu aprendi a cavalgar, e esse cavalo podia me levar muito mais longe do que eu com 26 anos conseguiria acreditar. e ele levou.
em um ano, eu cresci o que achava que cresceria em 5. em termos de equipe, de faturamento, mas também como pessoa. eu não sabia o que eu estava fazendo, mas algo dentro de mim, sabia. e esse algo contratou mentores, comprou cursos, investiu em análise e em uma mudança de apartamento.
duas mil alunas, um milhão e meio de reais e um burnout depois, não questionei por um segundo quando essa voz já conhecida no meu coração sussurrou "a Firma vai mudar de nome". eu não sou apegada a muita coisa nessa vida, e eu amo a mudança. a voz da minha intuição nunca tinha me deixado na mão, até hoje não deixou. se ela diz que vou criar uma marca nova, já estou fazendo um moodboard e a cartela de cores.
para você, essa marca pode ser "a Nans", pode ter sido o @ nansastrologia, a True Node e pode ser a Alta Presença. para mim ela sempre vai ser "A Firma". isso que criei porque preciso pagar as contas e porque o que eu faço com maior fluidez na vida é elaborar ideias. a casa de força, o estabelecimento invisível, a comunidade, a plataforma.
cinco mil alunas, dois milhões e meio de reais e muitas mudanças pós burnout. eu sou outra pessoa. meu trabalho é outro junto com minhas prioridades. mas a curiosidade é a mesma, cara leitora. essa nunca vai embora e ela move a Firma.
acho que posso dizer que esse texto é um brinde no jantarzinho de boas vindas depois de redecorar o escritório quântico do meu trabalho. ouça o barulho das taças brindando, dos primeiros segundos do vinho sendo servido. a luz é baixa, a casa está cheia. escute a música no fundo, de Sade a Heavy Baile (porque você precisa saber, eu fui criada na periferia), os nossos perfumes se misturando com as nossas risadas, flores coloridas, vou servir hamburguinhos e lasanha de berinjela.
e porque não tenho como esgotar assuntos em uma só edição,
vou terminar meu brinde com uma ideia (toda marca é uma ideia, escutei da
)é um enigma, algo para contemplar.
e se — entretenha essa possibilidade aqui comigo — você tiver sido escolhida para estar neste planeta neste momento, não para salvar o mundo, nem para pagar nenhum pecado ou para ser uma mulher exemplar? e se isso NUNCA tiver sido o ponto? e se não tiver um placar contando quantas vezes você acertou e quantas vezes foi péssima, a fim de determinar se você é alguém que vale a pena conhecer.
e se, no super bowl5 da vida, você não for um jogador em nenhum dos times. e se você for a atração do intervalo?
e se o ponto for você estar aqui? só isso. ficar aqui e estar parada o suficiente para o pássaro raro pousar no seu ombro. fazer seu show. sentir tudo o que há para sentir, ter encontros bons e ruins, ser a vilã em algumas histórias e a mocinha em outras. ficar perdida, se encontrar, destruir e criar. afetar e ser afetada, sentir prazer e dor, e deixar um rastro. e se o que o mundo espera de você, é que você deixe a marca mais genuína e íntegra, composta de vícios e virtudes, e não que você conserte alguma coisa ou vença alguma coisa?
e se a única exigência fosse que você estivesse ALTAMENTE PRESENTE enquanto tenta “experienciar” o que é a vida?
"as coisas são programadas para dar certo", vivo com essa frase tatuada do lado de dentro há muito tempo. eu acredito que temos uma bússola6 que recalcula constantemente a rota, porque o destino é o devir. mais nada.
você pode até achar essa ideia estranha, vindo de uma profissional de produtividade que ensina há 5 anos sobre planejamento, sobre ter objetivos. e sinceramente eu não ligo se você não concorda comigo, eu só quero te fazer pensar nessa possibilidade.
eu não estou dizendo que você tem um passe livre para ser um “saco de vacilo”. muito pelo contrário.
veja: é a presença. é ela. ela está na diferença entre ser rígida e ser firme, entre relaxar e se perder. entre estar eternamente buscando sua melhor e inalcançável versão, e só querer ser mais você. essa é a única coisa que um universo misterioso te pede, é a sua contribuição.
esteja presente, faça seus planos, esteja atenta e ainda assim confie. aprenda a seguir a estrela no fundo do seu coração, não tenha medo de mudar de direção quando a hora chegar, estude o idioma dos sonhos, seja fluente na língua que sua alma fala.
o planejamento é um mapa, uma cartografia que vem do estudo dos nossos campos, vales, florestas e estradas. nossas histórias, valores, desejos, responsabilidades. é bom ter um mapa. mas ainda assim, você precisa saber a todo momento onde está o norte.
eu desenho o mapa, o universo dá a bússola, e você é curiosa o suficiente para seguir as coordenadas da Alta Presença.
ps: já nos segue no Instagram novo?
"O córtex pré-frontal, a região mais evoluída do nosso cérebro, a região responsável pela nossa regulação emocional, começa a amadurecer a partir dos 3 a 4 anos de idade. E o cérebro só fica completamente maduro por volta dos 25 anos de idade. De cara descartamos a hipótese de 'mini adultos'. Então, talvez estejamos com algumas expectativas desalinhadas. (...) Diante dessa informação, isso nos ajuda a olhar para a criança com o direito dela poder ser criança. Ela precisa poder ser criança, porque se atropelamos esse processo, se aceleramos esse processo, estamos indo literalmente contra a natureza humana",explica e pedagoga Maya Eigenmann no podcast “Escuta que o filho é teu”
Palavra de origem no sânscrito, antevasin significa “aquele que vive entre dois mundos”, de forma literal. O termo era designado a quem deixava a sua vida em pequenas aldeias para morar próximo da floresta. Assim, essas pessoas continuariam a viver próximas dos outros aldeões e dos mestres espirituais, mas sem pertencer a nenhum deles.
https://www.astrologyzone.com/
https://pt.wikipedia.org/wiki/Timothy_Ferriss
https://pt.wikipedia.org/wiki/Super_Bowl
A bússola moral é um conceito que se refere à capacidade de uma pessoa de tomar decisões éticas e morais, guiando-se por princípios e valores pessoais.
É uma espécie de guia interno que nos orienta sobre o que é certo e errado, ajudando-nos a tomar decisões que estejam alinhadas com nossas convicções.
gostaria de dizer que eu poderia VIVER dentro dessa escrita, eu alugaria com um contrato de 3 anos, levaria tudo o que tem dentro e moraria feliz porque ela é uma das coisas mais RICAS, potentes, sensíveis e lindas que li nos últimos tempos.
sério, ananda, você NASCEU pra isso, pra mais e eu vou te ver lá, não interessa onde for esse lá, nem mesmo se ele mudar.
sigo ao teu lado querida! <3
A muita tempo uma leitura não me prende. Poderiam dizer que seria óbvio eu ser "presa" numa solução pra mim, mas não! Quantas vezes comecei sobre exatamente o mesmo assunto e não me identifiquei. Então posso afirmar que estou grata pela conexão e parabenizar você pela escrita tão rica,doce e de fácil entendimento. Obrigada.